A Arlequim teve a honra de receber no sábado do 04 de junho um dos maiores bandolinistas brasileiros, Déo Cesário Botelho, conhecido por todos nós como Déo Rian. Foi uma grande tarde, embalada pelas interpretações chorosas do carioca de Jacarepaguá, simples e geniais, tocadas com alma, sem malabarismos e pirotecnias que costumamos assistir no cenário da música atual.
Déo Rian começou nas rodas de choro ainda jovem, tendo logo a oportunidade de conhecer e ser aluno do mestre que influencia o choro até hoje: Jacob do Bandolim. Em 1969, ano do falecimento de Jacob, Déo é convidado pela RCA Victor a gravar um disco só com temas de Ernesto Nazareth. No ano seguinte, ingressa no lendário conjunto Época de Ouro, tendo o desafio de substituir seu mestre. O jovem bandolinista permanece no grupo até fundar seu próprio conjunto, o Noites Cariocas. Impulsionado pelas pesquisas que vinha realizando sobre o grande acervo deixado por Jacob, ele lança em 1983 o espetacular disco que deu vida a doze grandes obras, o “Inéditos de Jacob do Bandolim”, gravação que contou com o virtuose dos 7 cordas Rafael Rabello e com Darly do Pandeiro. Vinte e quatro anos depois, Déo deu continuidade ao projeto de inéditas e lançou o segundo volume, seu mais recente CD (à venda na Arlequim), oferecendo ao público mais um belo repertório de preciosidades. Vale ainda lembrar que, diante dos inúmeros e importantes discos gravados (quase todos fora de cátalogo), o bandolinista gravou em 1993 uma versão chorística de clássicos com Rabello, o CD “Delicatesse”, com obras de Chopin, Schubert, Brahms entre outros compositores.
Tratar da obra de Déo Rian em poucas linhas é tarefa impossível. De todo modo, vale lembrar o ótimo sarau apresentado por ele na tarde de sábado.
O bandolinista tocou ao lado de André Ballieny (violão 7 cordas), integrante das atuais formações do Época de Ouro e Noites Cariocas. A dupla apresentou clássicos do choro de importantes autores: Orlando Silveira, compositor e acordeonista da era de ouro do rádio; Rossini Ferreira, bandolinista pernambucano da mesma era, motivado por Jacob do Bandolim quando veio para o Rio e, mais tarde, parceiro de Déo; e o que evidentemente não poderia faltar, algumas composições de Jacob.
Déo Rian contou ainda com dois importantes convidados, seu filho e também bandolinista Bruno Rian e Aline Silveira, talentosa flautista que encantou o público da Arlequim.
Marcio Pinheiro